Dia: 15 de fevereiro de 2025

  • “Entre tantas Marias”, meu novo livro

    “Entre tantas Marias”, meu novo livro

    Reinvenção

    Quando escrevi o livro “Santiago: Caminho de Renovação” eu já tinha a impressão de que aquele não seria meu único livro.

    Nascia em mim um grande prazer por escrever, contar histórias, expor sentimentos e emoções.

    Em 2016, comecei a realizar um trabalho como voluntária na Fazenda da Esperança Feminina de Fortaleza.

    Têm sido anos de aprendizado e cura das minhas próprias feridas. Jamais imaginei vivenciar certas experiências com mulheres que se recuperam do uso de drogas e que esses momentos, nas nossas Rodas de Mulheres, pudessem ser tão engrandecedores, não só para elas como para mim.

    Em 2021, fui instigada pela responsável daquela Fazenda a escrever histórias de “Marias”. Entrevistamos algumas, lembramos outras e nos incluímos, como ” Marias ” também.

    Ao escrevermos o livro “Entre tantas Marias”, editado e publicado pela Editora da Fazenda da Esperança, usamos como fio condutor para relato e desfecho de cada história a força da espiritualidade, que é pilar fundamental na Fazenda da Esperança.

    Em novembro acontece o lançamento. E é só o começo desse meu mais recente projeto acontecendo. Um projeto feito a quatro mãos (da Ana Lúcia e minhas), e com o apoio de muitos da própria Fazenda.

    Onde iremos chegar com o livro, não tenho ideia, mas desejamos espalhar cura, amor e esperança.

  • As amigas da Internet

    As amigas da Internet

    Reinvenção

    Era época de pandemia. Uma vida muito diferente para o mundo inteiro, mas para além do medo da doença e da morte, tinha um componente excepcional: a falta do olho no olho, dos abraços e das conversas sem fim.

    Aprendemos ligeiro fazendo as tais “lives” a tentar disfarçar a falta que as presenças nos traziam.

    Como eu já havia escrito um livro e gosto bastante de ler e ser lida, entrei num grupo de mulheres cujo nome “Mulheres, livros e vinhos” tinha tudo a ver com minhas necessidades, embora naquele momento, apenas virtualmente.

    Um dia fui convidada para conversarmos virtualmente sobre a história que conto no meu livro “Santiago: Caminho de Renovação”. Foi uma farra! Conversei com a mulherada que nunca tinha visto, ri e fiz muitas rirem, foi maravilhoso!

    Dias depois, outro convite. Outra “live”. De novo conversei sobre o tema, desmistificando a separação como uma possível queda sem fim. Mostrei tudo. A dor e a delícia de estar separada, os encontros comigo mesma, as inúmeras fontes de renovação que venho me proporcionando.

    Nessa segunda experiência eu parecia estar mais solta ainda, e criei, sem perceber, um vínculo diferente com elas.

    Ficamos nos comunicando pelo Instagram. Sabendo que uma delas tinha uma casa em Baturité, num lugar paradisíaco da Serra, propus um fim de semana juntas.

    Já estávamos vacinadas e a segunda onda do Covid-19 tinha nos dado uma trégua.

    Combinamos os detalhes por semanas e finalmente chegou o grande dia.

    Delas eu sabia pouco. Uma idade bem inferior à minha, a maioria estava divorciada (e feliz!) e uma ou outra vivia de forma tranquila suas relações afetivas.

    Ao comunicar para minha filha e neta que iria para esse fim de semana na Serra, ambas me perguntaram de onde eu conhecia essa mulherada. Respondi apenas que as conhecia da Internet, pelo Instagram.

    Minha neta, na época com 15 anos, assídua frequentadora das redes sociais deu um “pulo”!

    – Vovó, você não pode ir para um lugar com pessoas que nem sabe quem é. É perigoso! Quem são essas mulheres?

    – São minhas amigas da internet, menina! Estou adorando poder ir para um fim de semana com elas.

    É claro que em princípio deixei que acreditassem na mais absoluta falta de conhecimento sobre elas, mas a verdade é que eu havia sido colocada naquele grupo por uma grande amiga, que já as conhecia de longas datas e isso para mim era suficiente.

    Mas deixei minha filha e minha neta acreditarem numa possível loucura. Adoro essa sensação de impactar a imaginação dos outros.

    Durante toda minha estadia, fiquei recebendo mensagens e telefonemas das filhas e neta, preocupadas com meu desatino.

    Contei a história para o grupo. Foi gargalhada geral. Hoje, nosso grupo no WhatsApp é identificado como “As amigas da internet”.

    Tornamo-nos verdadeiramente ligadas e, a partir desse encontro, muitos outros já se seguiram.

    Ter amigas virtuais nunca foi minha pretensão, mas posso garantir que depois dessa história, muitos preconceitos acabaram, e ampliei com elas e através delas aprendizagens, experiências e percepções sobre a vida.

    Minhas amigas da Internet são lindas, jovens, cheias de vitalidade. Adorei ousar conhecê-las de perto. Cada vez mais perto, muito perto!

  • Medos

    Medos

    Reinvenção

    Durante minha caminhada para chegar a Santiago de Compostela fiquei por muitos períodos completamente sozinha.

    Foram momentos que vi que minha introspecção se acentuava. Eu conseguia pensar e sentir a mim mesma com muito mais profundidade e, entre choro, tristeza ou uma sensação de paz e aconchego, meus passos seguiam.

    Eu estava vivendo uma fase de muita dor, mas percebia que era também a hora de uma grande virada, só não conseguia ainda enxergar como.

    Quando retornei à minha terra, não foram poucas as pessoas que vieram saber se o medo teria sido meu companheiro.

    Outras muitas disseram que jamais teriam coragem de fazer o Caminho de Santiago sozinhas como eu fiz, e se surpreendiam com minha ousadia.

    Em um dos 15 dias de caminhada, passei por um momento no mínimo curioso. De cabeça baixa, presa a meus pensamentos, tomei um susto ao ouvir a voz de um homem, que falou quase me esbarrando: “Você não tem medo de caminhar sozinha?”. Meu coração disparou. Não respondi e apenas apressei o passo, rezando para não ser seguida.

    Ali, já depois de ter andado por alguns dias, fui pensar sobre o medo.

    Por que eu, que sempre me considerei tão medrosa, estava diante de uma situação daquela?

    Naquela fase da minha vida eu vinha enfrentando outros medos, acho que bem maiores, e diante deles, peregrinar desacompanhada não representava absolutamente nada para mim, apenas o desafio de cumprir o percurso determinado até chegar a Santiago de Compostela.

    Já tive medo de ser copiloto de rally, de andar de avião, de perder minhas filhas. Com a maturidade, todos foram se aquietando no meu coração. O que eu tinha mesmo e que restava forte em mim era o medo de recomeçar a vida sozinha. Esse passou a ser o pior deles.

    Refiz essa nova vida essa nova vida devagar. Houve dias com mais incertezas e angústias, mas outros tantos com coragem, em que fui me soltando e desejando liberdade para buscar a mim mesma.

    Ainda continuo caminhando.